terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Coalizão heterogênea é desafio para nova presidente do Chile: Analistas temem que divisões entre partidos de base possam dificultar aprovação de propostas de Bachelet

Aliados, porém, dizem estar comprometidos com o programa de governo no primeiro encontro após eleições
LÍGIA MESQUITAENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO
A presidente eleita do Chile, Michelle Bachelet, terá maioria no Congresso, mas resta saber se ela conseguirá construir um consenso dentro de sua heterogênea coalizão de centro-esquerda, a Nova Maioria (ex-Concertação).
A aliança agrega o Partido Socialista, de Bachelet, a Democracia Cristã, o Partido Comunista, o Partido pela Democracia, o Partido Radical Social-democrata, a Esquerda Cidadã e o Movimento Amplo Social.
Em seu primeiro dia como presidente eleita, Bachelet se reuniu ontem em Santiago com os líderes dessas legendas. No encontro, todos afirmaram que estão comprometidos com o programa de governo da futura mandatária, que inclui as propostas de reformas tributária, educacional e constitucional.
Além desses três temas, o programa de Bachelet aborda questões que são vistas de maneiras diferentes pelos partidos da coalizão, como a descriminalização do aborto em situações específicas (risco de vida para a mãe, inviabilidade do feto ou estupro) e o casamento gay.
Para o analista político Patricio Navia, professor da Universidade Diego Portales, a atitude da Democracia Cristã dentro da Nova Maioria será fundamental."As visões mais moderadas da Democracia Cristã com certeza vão se impor", diz.
"Temas como o casamento igualitário não serão um problema para a Democracia Cristã, porque não somos conservadores. Eu fui o autor do projeto da lei de divórcio", afirma à Folha o presidente do partido, Ignacio Walker.
Melissa Sepúlveda, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, não acredita que a Democracia Cristã votará a favor da reforma educacional.
"Eles já se mostraram contra algumas medidas", afirma. "Não é porque Bachelet tem a maioria numérica que existe alguma garantia de que ela fará essa reforma."
Walker rebate a afirmação da líder estudantil. "Fomos o primeiro partido a pedir o fim do lucro na educação. Estamos comprometidos com essa reforma."
A participação do Partido Comunista no governo também gera dúvidas na Nova Maioria, já que os comunistas estão fora do Palácio de La Moneda desde a morte de Salvador Allende, em 1973.
"Será que o Partido Comunista estará comprometido com o projeto de governo? Temos dúvidas se ele terá um pé na alameda [na rua] e um no La Moneda", diz em off o líder de uma das legendas da coalizão.
O analista Navia diz que Bachelet precisará dos comunistas. "Será essencial a presença deles para ter governabilidade e conter as críticas da esquerda."
Fonte: Folha, 17.12.13.

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